A fotografia é hoje em dia um instrumento quase indispensável para a sociedade. Em quase todos os lares, existe uma máquina fotográfica. É comum os amigos e famílias usarem as fotografias para guardarem momentos especiais e não só, mas será que sempre foi assim? Será que a fotografia sempre foi tão acessível como é hoje?
Para tentar explicar tudo isto fui a umas das casas de fotografias mais antigas da vila, Foto Matos, onde falei com o fotografo Lima Pereira.
É sensato começar por dizer que a Fotografia a preto e branco não tem nada a ver com o trabalho que é feito actualmente. A revelação era um trabalho moroso e totalmente manual, sendo este processo algo complicado não estando ao alcance de qualquer pessoa. Para a realização deste processo “era necessária a escolha do tipo de papel mais adequado, sendo que existia um tipo de papel para quando os negativos estavam mais suaves, outro para quando estavam mais duros e outro para quando se encontravam normais”, cabia ao fotógrafo fazer a escolha. A passagem do negativo para o papel fazia-se através de um ampliador manual, que fazia a impressão do negativo na folha. A pessoa que fazia este trabalho tinha de controlar o tempo de luz ou pela experiencia que já tinha ou um pouco à sorte, tentando várias vezes até a fotografia ficar bem. Em seguida, vinha a parte química da revelação, para a sua realização era necessário ter um conjunto de químicos (revelador, fixador, branqueador). Existiam umas medidas e tempos predefinidos, mas cada fotógrafo com a sua pratica definias as suas próprias medidas e tempos. Nesta parte química, as fotografias eram primeiramente colocadas no revelador, passando depois para o fixador (“no fixador não podiam estar tempo de mais, pois corria-se o risco de com o passar do tempo estas vir a ficar amarelas ou até mesmo desaparecer”). Por último, passava-se à lavagem das fotografias, “eram posta em cuvetes com água a correr para tirar os químicos e ficavam lá mergulhadas por vezes até perto de um dia, e todas a fotos levavam um retoque final”, onde eram limpas manualmente retirando por exemplo pó ou um cabelos que ficasse marcado na altura da impressão.
Como podem constatar era realmente um procedimento muito trabalhoso, demorado e que exigia bastante perícia. Outro facto relativo ao preto e branco é o elevado preço, era um trabalho bastante caro fruto de todos estes pormenores que já referi.
Segundo Lima Pereira, “a fotografia já na era das cores tinha inicialmente um processo de revelação igual ao do preto e branco”, mas entretanto surgiram as primeiras máquinas de impressão que vieram tornar a revelação de fotografia num acto mais vulgar. Se no processo manual era necessário realmente perceber de fotografia, com este método tornou-se mais simples ficando mais acessível. Em relação aos custos, houve alteração radical ficando muito mais barato revelar fotografia. Isto é comprovado pelo seguinte, “se processo manual se quisesse revelar vinte fotografias tinha-se de fazer vinte vezes o processo de revelação já com esta automatização bastava carregar no botão e saiam vinte fotografias”.
O próximo passo na história da fotografia foi o digital. Com esta evolução Lima Pereira, afirma que “perderam-se totalmente as noções originais do que era a fotografia”. Nos dias de hoje qualquer pessoa pode revelar fotografia, claro está que uns o fazem melhor do que outros. Continua a existir o processo de correcção de fotografias, mas com o digital faz-se tudo por computador e é muito mais fácil realizar esse trabalho. Através de programas electrónicos podem-se fazer coisas impensáveis à uns anos atrás, tais como, colocar uma pessoa num local onde não esteve ou mudar a roupa de uma pessoa.
Quanto à componente económica é muito mais barata que a fotografia a preto e branco, não só devido a “este ser um processo muito menos trabalhoso e moroso, à concorrência entre fotógrafos mas também devido ao facto de as pessoas hoje em dia em vez de revelarem as fotografias as armazenarem, e como forma de incentivo baixam-se os preços”.
No entanto, mesmo com todas estas vantagens que referi têm-se voltado a aderir à fotografia a preto e branco. Mas achas que a fotografia a preto e branco dos dias de hoje é produzida pelo mesmo processo de antigamente?
A resposta é claramente não, até porque “são cada vez menos a pessoas que ainda sabem realizar esse processo e também porque não iria ter o mínimo de rentabilidade”. O preto e branco de agora é automático, muda-se de cores para preto e branco no computador e também em quase todas as maquinas exista já uma opção que permite tirar logo a foto no modo preto e branco. “Estas fotos são impressas no mesmo papel da fotografia a cores e têm o mesmo preço. Contudo comparando o preto e branco de antigamente com o da actualidade, não à margem para duvidas, o de antigamente é de uma qualidade muitíssimo superior”. Era um trabalho que exigia muito mais profissionalismo, mais custos, mas que era de maior qualidade e sobre tudo eram mesmo preto e branco. Agora ficaram a pensar o que quero dizer com isto do eram mesmo a preto e branco, passo a explicar, actualmente as fotografias chamadas de preto e branco mais não são do que uma conjugação de tons de cinzento.
Em suma, a fotografia sofreu grandes transformações ao longo dos anos e a todos os níveis, de tal forma, que vieram tornar a fotografia em algo banal e de fácil manejo. Desmistificou-se o ideal de fotografia, sendo que hoje em dia o essencial para fotografar é não cortar cabeças e pés. No entanto há também o lado positivo de que toda a gente pode utilizar e gozar dessa arte que é fotografar.
Fernando Cunha
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário